"VOLTO QUANDO PUDER"
Faz uns anos que a vida de Ana parece conectada a um loop infinito em que seus dias não passam de uma medíocre repetição. Abre os Olhos, levanta, lava o rosto e os dentes, prepara o café, grita filhos e marido, comem. Despedem-se com um desejo de bom dia, fecha a porta; mas dessa vez o barulho soou seco, sentiu uma pontada no peito. Passou a mão pelos cabelos, escorregou pelo pescoço e quando deu por si estava diante do espelho, seus olhos perdidos percorreram os caminhos marcados pelo tempo...
-É, tenho q colocar o feijão no fogo, vida que segue!
E foi.
A panela começava a borbulhar quando se sentou, na mesa ainda havia resquícios do café, mas simplesmente pegou um cigarro, deu dois grandes tragos e nada, a mágica não aconteceu. Cadê a santa calma que sempre vem tão express? Tragou uma e outra vez... nada, nada, nada... Um, dois, cinco cigarros... A panela berrava e a mistura das fumaças já não permitiam que distinguisse bem o seu entorno. Paralisou por um lapso de tempo e quando retornou seu único anseio era de fugir.
Saiu desnorteada, nem lembrou de fechar a porta, os pés afoitos por liberdade caminharam incessantemente até que Ana vislumbrou belas árvores , ouviu o sublime cantar de pássaros e sentiu um inebriante perfume de flores. Sua alma foi arrebatada por profundo éxtasis, se sentiu plena, segura de que aquele era seu lugar.
O apartamento escancarado insinuava desfortúnio, o filho faminto chegou e temeroso adentrou, a fumaça o guiou... Na cozinha, pretume e ruína roubaram-lhe o apetite, deram um nó na garganta e desataram as lágrimas. A mãe estava lá, caída.
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